Para além da doença, o leproso consumia-se com outra angústia: estava excluído da comunidade. Um ‘muro’ invisível separava-o de tudo. Existia, mas não vivia. Sentia-se ‘morto’, antes de morrer.
O leproso do evangelho não tem nome. Pode ser cada um de nós. Todos padecemos de algum tipo de ‘lepra’. E também elaboramos listas de ‘leprosos’. Quantos descartados, hoje? Olhemos à nossa volta. O que vemos? Que fazemos?
Aquele leproso vai contra a determinação da Lei, que o obrigava a permanecer longe de todos. Jesus, se quiseres, podes limpar-me. Mas faça-se a tua vontade. Aceito-a, seja ela qual for.
Jesus comove-se profundamente. Ouve o seu pedido. Escuta-lhe o coração. Deixa que o homem se aproxime. E toca-lhe. Jesus não vê nele um ‘contaminado’, mas um amado.
Não acredita que a doença torne o homem impuro. Nem que é um castigado ou rejeitado por Deus. Deus luta ao lado dele. Deus junta-se a nós no combate contra todas as tonalidades do mal.
Quero: fica limpo. Mas não digas nada a ninguém. É que podem equivocar-se sobre mim. Sou um curador de ‘lepras’ da alma, não um ‘messias milagreiro’.
“O milagre é irritante quando se torna mais convincente e mais apaixonante que Jesus Cristo, quando alicia em vez de converter. Como dizia St.º Agostinho, não ames mais o anel que o Noivo.”
Na Amazónia, num leprosoário que um sacerdote visitava, um leproso pediu durante a Eucaristia: “Que Senhor ajude o padre Ermes, porque na Europa é muito difícil manter a fé.”
No final da celebração, o sacerdote perguntou-lhe: “Quando te encontrares com o Senhor, vais perguntar-lhe por que razão eras leproso?” Ele respondeu: “Não lhe vou perguntar nada. Eu sempre me fiei nele.” Confiados em Deus, ao lado de Jesus, forjemos um mundo sem ‘leprosos’.