Descemos do ‘monte’. Regressámos à Cidade
27 Fevereiro 2021
Jesus levou-nos para um local retirado num monte elevado. Onde a terra está mais perto do céu.
Revelou-nos, por breves instantes, a sua Glória, no fulgor de uma luminosidade.
Se a resplandecência das vestes quase nos cegava, como seria a luz do corpo, da face, do coração!
Deus confirmou que Jesus é o Seu Filho muito amado. E que devemos escutá-Lo.
Jesus mandou-nos partir. Impediu-nos de erguer e fixar a tenda do ‘que bom é estarmos aqui’.
Apetecia-nos criar raízes naquele lugar e Ele determina que nos arranquemos dali.
Almejávamos ficar grudados ao chão e Ele exige que nos coloquemos em movimento.
Queríamos perpetuar o instante de deslumbre, do ‘quentinho’ que nos enternecia, e Ele acorda-nos para a espessa substância da realidade.
Só mais tarde entendemos porque é Jesus nos tinha ordenado que não contássemos a ninguém o que tínhamos visto, enquanto Ele não ressuscitasse dos mortos.
Ele não era o messias-rei, cintilante, glorioso, vitorioso, todo-poderoso, que dominaria as nações.
O caminho da Sua missão atravessava os territórios do serviço, do sacrifício, da doação da vida.
Não há atalhos aprazíveis para se chegar ao Céu. Não há vida sem cruz. Não há amor sem dor.
Jesus continua a ‘transfigurar-se’ para nós. O ‘cume’ desses instantes é a Eucaristia.
Contemplamos Jesus, não num arrebatamento de luz, mas nas ‘fulgências’ do Pão e Vinho.
Desta vez, não estamos compelidos a guardar segredo. Falaremos a todos deste Banquete.
Mas que palavras serão necessárias, se nos virem com as ‘vestes resplandecentes’, a face alumiada, um sorriso nos lábios, os braços abertos, o coração em festa?
Descemos do ‘monte’. Regressámos à Cidade. É aqui que Jesus nos quer.
P. Carlos Jorge