A bênção da crise
22 Junho 2013
«Albert Einstein tinha as suas razões e as suas convicções para dizer que a “crise” é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia assim como o dia nasce da noite “escura”.
Perante a realidade nua e crua da crise, que não é somente económica e financeira, mas também espiritual e moral, somos tentados ao desalento. Corremos, assim, mais o risco de morrermos da cura do que do sofrimento.
A história confirma que das crises emergem as virtudes, as ideias e os grandes propósitos que originam novo desenvolvimento. (…). É na crise que aflora o melhor de cada um. Por isso, volto à exortação de Einstein: “Trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la”.
Sintoma da crise é o medo dos portugueses com a vontade amolecida pelas adversidades. Mais grave ainda, quando muitos, a quem roubaram a esperança, já se dão por desistentes e vencidos, como se entrassem no inferno.
Tem razão o Papa Francisco para não se conformar com a economia “sem rosto”, que esquece as pessoas e agrava as desigualdades, em nome de “ideologias que promovem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira”. (…) Para o Papa, a causa da crise está na “recusa da ética” e “de Deus”, com a “divinização do dinheiro e do poder”.
Ninguém se julgue dispensado de lutar contra a crise, culpado os outros para se dispensar de dar o corpo ao manifesto.»
Rui Osório, em revista Mensageiro de Santo António
(Ano XXIX, n.º 6) 2013