Cultivar a Festa: da mundanidade do Carnaval ao espírito das festas cristãs
1 Março 2014
“[o Carnaval] é a festa que antecede os quarenta dias em que os cristãos esperam pela semana onde revivem, de um modo especial, o que, para eles, é a primavera maior: a Páscoa de Jesus de Nazaré.
O Carnaval nasceu há vários séculos, no mundo cristão. “Carnaval” é a junção de duas palavras latinas: carnis, que significa “carne”, e vale, que quer dizer “adeus”. Foi uma festa, então, criada para dizer “adeus à carne” – pois os dias seguintes, a Quaresma, eram de jejum e abstinência (…).
Com o passar dos anos, o Carnaval teve a sua evolução … e ele não é vivido em toda a parte do mesmo modo. Mas parece-me que as suas diversas manifestações terão algo em comum: a máscara.
A máscara pode ser vista como reacção de quem intui que a sociedade, com a sua divisão entre ricos e pobres, governantes e súbditos, é uma construção humana – onde as leis se fazem para manter uma ordem social que não aproveita a todos. Quando um trabalhador se mascara de rei ou uma empregada se veste de princesa, estão, no fundo, a dizer o que gostariam de ser: o mundo não tem que ser como é, é possível um outro mais igualitário. Para o mesmo significado, concorrem o ridicularizar do poder político ou religioso, o transgredir os “bons costumes” e “passar das marcas” (fazer o que não se faz durante o resto do ano) e até comer e beber mais do que o habitual: encena-se o que se espera que venha a suceder no futuro – que é a fraternidade e a fartura para todos… (…)
E, perguntar-se-á, quanto às festas cristãs – Baptismo, Casamento, Missas, etc.? Sem dúvida, [o que] vale para qualquer verdadeira festa, vale também para elas.
Há, entretanto, que não perder de vista a sua originalidade e fundamento – que é a Páscoa de Jesus: Ele que morreu crucificado pela coligação dos poderes político e religioso, está vivo, agora!
Já de si, isso é uma transgressão das leis deste mundo … que baralha tudo, tornando-se, para os que seguem Jesus, uma Boa-Nova: a última palavra não pertence ao mal, mas ao amor de Deus!
A nova vida de Jesus manifesta-se-nos como um vento novo, a que chamamos Espírito de Jesus – que sopra em nós mesmos, nos interroga, levanta e encoraja a um mergulho mais fundo na existência.
E a melhor linguagem para o traduzir é, precisamente, a festa: a celebração cristã é uma dimensão essencial para os seguidores de Jesus!”
Vítor Vargas, em Mensageiro de Santo António (Ano XXX, n.º 2), pp. 8-9